segunda-feira, julho 07, 2014

As tardes

Passam as tardes com as bundas sentadas
em desajustadas poltronas de escritório
enquanto as nuvens deslizam seus corpos
de gás e alvor pela transparência
que permeia os imensos blocos
cinzentos e angulares destas cidades.
Perdem a vida os cotovelos
apoiados em ripas de compensado
que custaram mais do que valem
e cinzas e lisas como nunca
na natureza.
E os fios.
Atravessam os muros, preenchem os furos,
soçobram nos rios. E vão.
Transmitem cliques descompassados
carregam nos ombros as indomáveis angústias
e trazem em rédeas curtas o sapato
comprado cinquenta por cento off,
três vezes no cartão,
bem como a garota branca como as nuvens
mamas duras como o concreto
cabelo críseo feito os raios retilíneos
do sol
que não chegam até o escritório
devido a eterna sombra deitada
pelo Conjunto Residencial
Mont-Blanc.

Nenhum comentário: