segunda-feira, novembro 04, 2013

Mu

Perambular
pelo pasto
é a rotina
da vaca
do chifre
pequeno
e da
fome
comprida.
Ela morde
corta
engole
e regurgita
e masca
mais
um pouco
a grama
verde
até virar
papinha.

Mas,

pra lá
da cerca
a grama
mais suculenta.

11h35

Chuviscando,
sobe um cheiro
de terra molhada
que se mistura
ao cheiro
de fritura
do restaurante
ao lado
que faz coxinha encharcada
pra vender na vitrine
todas as manhãs
faça chuva
ou faça sol.


terça-feira, setembro 17, 2013

Tique-taque

Em cinco minutos
dá para a gente
dormir mais um pouco
perder o encontro
virar a partida
comer um pastel
quem sabe até dois.

Em cinco minutos
também é possível
fazer um miojo
tirar fora o lixo
visitar o vizinho
matar o serviço
ir embora mais cedo
fazer número dois.

Em cinco minutos
trezentos segundos
um doze avos de hora
a gente conhece
passando na rua
a moça que muda
para sempre
o compasso de todos os próximos minutos.



segunda-feira, julho 22, 2013

Viagem

Uma carreta
na descida
dobra em L
e atravessa
de repente
pro outro lado
da rodovia.

Na tua frente.
Bem na tua frente.
Não dá tempo
de desviar.
Acostamento
não existe.
Só existe
o metal
desgovernado
que recorta o ar.

Os olhos
na extrema hora
se fecham.
E só se abrem
quando a estrada
de novo
é livre.


O rastro de um avião a jato.
A estrutura metálica das torres
de transmissão elétrica.
Cabos em U aberto.
Elefantes
porcos
locomotivas
e Zeus sentado no trono
do Monte Olimpo feito de nuvem.
As copas ralas dos pés de eucalipto.
Antenas parabólicas
de internet via rádio
captando ondas que não podemos ver.
O topete laqueado da senhora bonita.
A cesta de basquete.
A branca e grossa fumaça da usina.
As luzes de neon da propaganda do motel.
O cheiro azedo do riacho poluído.
A borboleta que passa
e por pouco não se espatifa no para-brisa.
Urubus olhando para baixo
e planando em círculos

sobre nossas cabeças.

sexta-feira, julho 19, 2013

No cinema

Pq vampiro
não usa as mão
pra levantar
do caixão?

Recompensa

Achava bonito
viver atormentado,
partido em dilemas,
andar mal-humorado.

Pensava que a dor
autoprovocada
o deixava mais crítico,
mais bem preparado
pra dar e levar porrada.

Assim se passaram anos e anos
de coração apertado,
de sorriso fechado,
de vida de controlados planos.

Morreu.
Fedeu.
Apodreceu.
Não foi pro céu
e se arrependeu.

terça-feira, junho 25, 2013

Acidente de percurso

Na barreira de pneus
da curva Tamburello
você me abandonou.

De leve, nos tocamos na reta.
Perdi o controle,
você seguiu em frente
e acelerou.

Sequer me viu
rasgar a caixa de brita
e espatifar os dentes.

Acelerou e foi embora
pra vencer de vez a prova.

Erguer troféu pesado
no lugar do pódio mais elevado.

(Estourar champagne
sem mim
que lhe acompanhe.)

Restou-me o resto
do resto do resto.

Quebrado, sem pino fixo,
Juntaram-me os cacos,
enfiaram num saco
e jogaram no lixo.