segunda-feira, julho 22, 2013

Viagem

Uma carreta
na descida
dobra em L
e atravessa
de repente
pro outro lado
da rodovia.

Na tua frente.
Bem na tua frente.
Não dá tempo
de desviar.
Acostamento
não existe.
Só existe
o metal
desgovernado
que recorta o ar.

Os olhos
na extrema hora
se fecham.
E só se abrem
quando a estrada
de novo
é livre.


O rastro de um avião a jato.
A estrutura metálica das torres
de transmissão elétrica.
Cabos em U aberto.
Elefantes
porcos
locomotivas
e Zeus sentado no trono
do Monte Olimpo feito de nuvem.
As copas ralas dos pés de eucalipto.
Antenas parabólicas
de internet via rádio
captando ondas que não podemos ver.
O topete laqueado da senhora bonita.
A cesta de basquete.
A branca e grossa fumaça da usina.
As luzes de neon da propaganda do motel.
O cheiro azedo do riacho poluído.
A borboleta que passa
e por pouco não se espatifa no para-brisa.
Urubus olhando para baixo
e planando em círculos

sobre nossas cabeças.

sexta-feira, julho 19, 2013

No cinema

Pq vampiro
não usa as mão
pra levantar
do caixão?

Recompensa

Achava bonito
viver atormentado,
partido em dilemas,
andar mal-humorado.

Pensava que a dor
autoprovocada
o deixava mais crítico,
mais bem preparado
pra dar e levar porrada.

Assim se passaram anos e anos
de coração apertado,
de sorriso fechado,
de vida de controlados planos.

Morreu.
Fedeu.
Apodreceu.
Não foi pro céu
e se arrependeu.