sexta-feira, março 18, 2011

Fábulas alucinadas 2 - O morcego desarrumado

Um dia, o morcego da caverna escura se cansou da vida noturna e decidiu que era hora de realizar seu sonho mais íntimo: cantar de galo.
Era pleno meio-dia e todo bando dormia quando ele arrumou as tralhas e partiu. O brilho intenso do sol atrapalhou sua vista, mas o morcego seguiu em frente e bateu asas até cansar.
Já com a língua toda de fora, nosso determinado amigo pousou numa granja superlotada. Que harém!  Abriu, então, as asas para se apresentar sedutor e imponente, mas a batsilhueta contra a luz aterrorizou as galinhas, que fugiram espalhafatosamente.
Sozinho, coberto de penas, o viajante ficou triste com o abandono e decidiu que era o jeito voltar pra casa. Quando chegou, à meia-noite, os outros morcegos alegraram-se com o retorno do filho pródigo e correram para saudá-lo.
Satisfeito e emocionado com tanta festa, o morcego da caverna escura soltou um largo cocoricó de felicidade.

terça-feira, março 15, 2011

A invenção geniosa

Foi-se o tempo em que os homens eram cavalheiros e abriam a porta dos carros ou puxavam o assento da cadeira às mulheres. Hoje, nada disso.
Então, para se vingar, a cientista e pesquisadora Terezoca Matias bolou por anos um sistema eficiente para forçar estes seres desprezíveis ao mínimo trabalho doméstico.
Assim, ela criou os vidros de azeitona e palmito - e liberou a patente para que a ideia se alastrasse pelo mundo.

domingo, março 06, 2011

Fábulas alucinadas 1 - O coelho camarada

Era uma vez um coelho. Era branco, tinha orelhas pontudas e o infeliz hábito de comer de boca aberta. Um dia, o rei leão foi visitá-lo. Precisava de ajuda para entender a vida, assunto que o coelho dominava, depois de tantos anos trabalhando no incrível setor de aparecimento e desaparecimento de cartolas. O leão estava velho e queria saber para onde iam os leões depois da morte. Desapareciam?
- Eu não sei, disse o coelho, mastigando nojentamente uma cenoura crua. Só sei que não deve ser um lugar bom.
- E por quê?, questionou o leão, apavorando-se.
- Os leões são maus, como todos os reis e poderosos, respondeu o coelho.
Enraivecido, o leão foi embora, não sem antes dizer:
- E os coelhos são promíscuos, botam filhos a rodo no mundo e não dão conta de criá-los, deixando ao rei este encargo!
Ao ouvir a porta bater, o coelho apanhou outra cenoura na geladeira e foi ao telefone contar a novidade ao pelicano.
- O rei está no papo, meu caro. É só fechar o bico e não o deixar sair.
E assim foi feito. O rei foi aprisionado, torturado e morto. E a floresta solidária elegeu o sábio coelho seu novo rei.
Meses depois nosso amigo não tinha mais as orelhas pontudas e nem o pelo esbranquiçado. Ao se olhar no espelho, admirou a juba que crescia em volta do pescoço e disse para si mesmo.
- Como estou bonito!