sexta-feira, outubro 09, 2015

Praça nobre

Tem o Centro
e tem o Centrão,
onde sento e observo
o universo em movimento.

Ilusão.

quinta-feira, outubro 08, 2015

Chão binário

No meu sertão,
ou você é ou não.
Tem um sol pra cada ser
e cinquenta tons de cinza
só se for na cremação,
torrado depois de morrer.

Rico anda de Mercedes,
pobre de havaiana falsificada.
Doente vai de ambulância,
pintor pinta paredes,
padeiro não vende fragrância
e poeta presta pra nada.

No meu sertão,
tudo é breve, resumido.
O sim nunca é não,
o não sempre não é sim.
Ninguém faz biquim.
Todo mundo toma partido.

Não tem Pepsi:
é guaraná ou Cola-Cola.
Não tem estresse:
é trabalhar ou jogar bola.
O tempo não nubla:
é sol ou é chuva.

Não há terceira opção:
é amor ou solidão.

sexta-feira, outubro 02, 2015

Turbulência

O que pensa a aeromoça
depois que recolhe o lixo
das pessoas desatentas
e senta-se a nossa frente,
sozinha, antes do pouso?

Pensa no namorado que
a contrariou na noite anterior
e agora está longe e pequeno,
um em meio a tantos outros
homens ingratos das cidades
daqui tão diminutas?

Ou em sua vida vai e volta
pousa e decola, sobe e desce
em lugares que mal conhece,
mas imagina serem interessantes,
um dia vem com calma,
tira fotos, toma um chope,
traz a família?

Em qual horizonte deposita os olhos
maquiados e distantes?

Está com sono, acordou cedo
e ainda é só segunda-feira?
O salto do sapato a incomoda
mais que a mulher sonsa
que fez pouco caso quando
se recolheu a latinha de Coca-Cola?

Será que sente que a observam
e se encantam dela?
Será que ainda olha pela janelinha?
Será que ainda escuta o zumbido
das turbinas dentro dos ouvidos
quando está em casa
lendo um livro, vendo novela?

Agradece a Deus ou um santo
qualquer, ou talvez um Buda,
ou um espírito ou fada benfazeja
toda vez que o piloto
(quem sabe um chato)
faz bem o serviço
e toca o trem de pouso ao chão?

Não sei o que pensa a aeromoça.
Sei que pouso, mas meu coração
fica e viaja com ela.