sexta-feira, dezembro 16, 2016

Fim

retrospectiva show da virada fogos
na Austrália e Japão menino Jesus shopping
lotado panetone tender tio
rico que dá presente barato Copacabana
Roberto Carlos sete ondas do Oceano
Atlântico comida requentada roupa apertada
nas banhas acumuladas ao longo do ano
mas ano que vem não
cupom sorteio cueca branca calcinha
vermelha como o saco
do Papai Noel Missa do Galo amigo
secreto chato pra caralho
por que tirei bem esse filho da puta
parente distante espumante camelô
ambulante festa da firma estagiário
descontrolado castanha de caju
portuguesa do Pará Iemanjá
frango recheado maionese pinheiro de plástico
repleto de bolas cachaça guardada
pra quando gente importante chegar
sal de fruta enxaqueca ressaca bruta
Simone sorrisos sinceros
em falta segunda parcela do décimo terceiro
caganeira criançada correria congestionamento
choradeira roupa lavada
spams velhas esperanças renovadas

segunda-feira, novembro 28, 2016

Ode ao ar

Ar-condicionado,
sou eterno
apaixonado
pelo hálito
refrescante
de sua boca
ondulante
que gira
incessante
para o bem
da humanidade!

Você tira
a umidade,
mas dá
a tranquilidade.
A conta
fica cara,
mas a cara
fica pronta
e topa
qualquer parada.

Não queremos
mais nada.
Não queremos
a amada.
Não queremos
os amigos.
De nada valem
os inimigos.

Nosso único
objetivo
é viver
a vida linda
de porta fechada.

quinta-feira, agosto 25, 2016

chão de praça

bituca
palito de dente
casca de mexerica
tampinha de garrafa
folhas secas

cocô de cachorro
de gato, de gente?
fila de formiga
santinho de vereador
jornal velho

água empoçada
copo plástico amassado
com resto de suco
de uva, de maça,
de morango, frutas vermelhas?

ou sangue?
comprovante bancário
arame retorcido
cacos de vidro
um pingente

restos de comida
arroz, feijão
carne não sei de que bicho
moscas-varejeiras
casquinha de sorvete

terça-feira, julho 12, 2016

A terceira (e última?) aventura de Carlos

Eu tinha aquele maldito sonho
de correr em câmera lenta.
Na infância, corria do cachorro em câmera lenta.
Na segunda série, corria do Edilson.
Corria de moleque que queria roubar minha bicicleta.

Nunca consegui de fato fugir
e sempre que chegava na iminência de ser pego,
acordava com taquicardia.

Aí um dia aprendi a correr
e ninguém nunca mais me pegou...
E nunca mais tive um sonho em câmera lenta.

Você me pergunta: mas, como aprendeu a correr?
Eu me abaixei e aprendi a correr
com os pés e as mãos... feito um lobo.

Frequentemente agora sonho
que estou correndo livre em alta velocidade
-- e os problemas tratados no sonho ficam para trás.

(A questão é que agora
meus dentes começaram a crescer
e não cabem mais na boca fechada.)

sexta-feira, junho 24, 2016

A vida é uma festa

Arte conceitual entortou o pedestal.
Diz que gosta, mas vai que é uma bosta...
Rês do chão: pra lá que não!
As bonita não me quer, as feia não me gosta.

Água no feijão:
põe muito, ralo fica;
pouco coloca, vira paçaroca.
Tira a casca pra comer a mexerica
e cospe as semente fora!
(senão, não brota).

Oh, Deus! Por que nos fez tão complexos?
Oh, Pai! Por que não a involução?
Meu Senhor, faça-me um favor:
manda-nos às luas de Saturno,
antes da revoada do anjo exterminador.

quinta-feira, abril 14, 2016

A segunda aventura de Carlos

Puta dum calor.
Você abre a porta
cinco minutos.
Entram:

três mosquitos da dengue
cinco moscas-varejeiras
doze besouros
sete aleluias
um escorpião

duas testemunhas de Jeová.

quinta-feira, março 24, 2016

A aventura de Carlos*

Fui varrer o quintal,
ouvi um grito maldito:
uma coruja me intimava.

Veio o inevitável:
você olha pra ela
e ela te encara.

Um passo pra frente,
fez que ia abrir as asas...

Foi o suficiente para eu recuar.


* roubei as palavras do meu velho amigo Charles, que me contou pelo whats app tal confronto que lhe abalou a manhã.

segunda-feira, fevereiro 22, 2016

Filósofo de botequim

O meio do meio do teu eu,
aquela coisa lá tão bem guardada
enfiada tão dentro
que tu não sabes - mas sentes!
bem onde fica,
é tão infinita
que chegar lá
é tudo - e só - o que importa.

terça-feira, fevereiro 16, 2016

Meu pai foi a um acampamento da igreja e a organização pediu um texto aos filhos, para homenageá-lo.
Saiu esse. O véio gostou, e eu gostei que ele gostou. Tudo certo!

Meu pai e eu.
Tão parecidos!

O mesmo olhar,
o mesmo jeito de sentar,
mesmo pé,
mesma mão,
mesmo time do coração.

Igual lerdeza,
igual certeza
de que tudo tem seu lugar,
pode pegar, pode usar,
mas devolva, é obrigação.

O barulho da chave nos incomoda,
gente enrolada, meu Deus, é soda!
Pois lá em casa o papo é reto,
não tem firula,
tudo é direto,
e chatice se resolve no palavrão.

Meu pai e eu.
Tão diferentes!

Pula essa parte,
conserva os dentes,
pra que discussão?

Iguais fomos feitos
para unir, manter e amar.
Diferentes
para aprender, perdoar e amar
- ainda mais!

Que assim sempre seja,
com água, refrigerante ou cerveja,
amém!

quarta-feira, janeiro 27, 2016

Parceria

Onde há seres humanos existem

pombos
ratos
e baratas

não pandas e unicórnios.

quinta-feira, janeiro 07, 2016

Repartição

Porta giratória.
Adesivos amarelos ao chão
-- delimitam filas.
Filas amontoam-se.
Gente mais próxima
a gente do que gostaria.

Um cego gira
a porta giratória,
que gira junto com ele.
Bate afoito a bengala
em canelas.
Moisés e seu cajado
a abrir chão no mar de gente.

Mas, para numa fila:
que amontoa os minutos
enquanto a Terra gira
no próprio eixo

lá fora.