Nasci no mato
e no mato fui criado.
Meu olho tudo vê,
meu ouvido tudo ouve,
minha mente em tudo crê.
No silêncio me maltrato.
Peço à vida que me atravesse.
Sou de pedra feita d'água.
Limão azedo que amadurece.
Gentil saída do teu agrado.
Fim de semana com chuva e prece.
Meu sonho é simples,
minha vida é curta:
um beijo de tua boca,
arrepios de tua nuca.
Pra depois fica o resto,
o que não sabemos,
o corte do fio,
o fim do pavio,
o indigesto gesto.
Sou lanterna abandonada
por quem fugiu não se sabe de quê,
acesa no meio do pasto,
onde nasci e vou morrer.
quarta-feira, dezembro 09, 2015
quarta-feira, novembro 18, 2015
Aumentativo
Gosto das palavras com ão,
mas a poesia, não.
Mas a vida, sim.
E a vida importa mais!
Requeijão.
Mamão.
Melão.
Feijão no pote da kibon.
Tudo na minha geladeira tem ão.
Por que não vou comer,
viver a vida,
parar de versar ruindades?
Ronc!
É o que vou fazer.
12h30 chegou
e o estômago anunciou
que é hora de rangar.
mas a poesia, não.
Mas a vida, sim.
E a vida importa mais!
Requeijão.
Mamão.
Melão.
Feijão no pote da kibon.
Tudo na minha geladeira tem ão.
Por que não vou comer,
viver a vida,
parar de versar ruindades?
Ronc!
É o que vou fazer.
12h30 chegou
e o estômago anunciou
que é hora de rangar.
sexta-feira, outubro 09, 2015
quinta-feira, outubro 08, 2015
Chão binário
No meu sertão,
ou você é ou não.
Tem um sol pra cada ser
e cinquenta tons de cinza
só se for na cremação,
torrado depois de morrer.
Rico anda de Mercedes,
pobre de havaiana falsificada.
Doente vai de ambulância,
pintor pinta paredes,
padeiro não vende fragrância
e poeta presta pra nada.
No meu sertão,
tudo é breve, resumido.
O sim nunca é não,
o não sempre não é sim.
Ninguém faz biquim.
Todo mundo toma partido.
Não tem Pepsi:
é guaraná ou Cola-Cola.
Não tem estresse:
é trabalhar ou jogar bola.
O tempo não nubla:
é sol ou é chuva.
Não há terceira opção:
é amor ou solidão.
ou você é ou não.
Tem um sol pra cada ser
e cinquenta tons de cinza
só se for na cremação,
torrado depois de morrer.
Rico anda de Mercedes,
pobre de havaiana falsificada.
Doente vai de ambulância,
pintor pinta paredes,
padeiro não vende fragrância
e poeta presta pra nada.
No meu sertão,
tudo é breve, resumido.
O sim nunca é não,
o não sempre não é sim.
Ninguém faz biquim.
Todo mundo toma partido.
Não tem Pepsi:
é guaraná ou Cola-Cola.
Não tem estresse:
é trabalhar ou jogar bola.
O tempo não nubla:
é sol ou é chuva.
Não há terceira opção:
é amor ou solidão.
sexta-feira, outubro 02, 2015
Turbulência
O que pensa a aeromoça
depois que recolhe o lixo
das pessoas desatentas
e senta-se a nossa frente,
sozinha, antes do pouso?
Pensa no namorado que
a contrariou na noite anterior
e agora está longe e pequeno,
um em meio a tantos outros
homens ingratos das cidades
daqui tão diminutas?
Ou em sua vida vai e volta
pousa e decola, sobe e desce
em lugares que mal conhece,
mas imagina serem interessantes,
um dia vem com calma,
tira fotos, toma um chope,
traz a família?
Em qual horizonte deposita os olhos
maquiados e distantes?
Está com sono, acordou cedo
e ainda é só segunda-feira?
O salto do sapato a incomoda
mais que a mulher sonsa
que fez pouco caso quando
se recolheu a latinha de Coca-Cola?
Será que sente que a observam
e se encantam dela?
Será que ainda olha pela janelinha?
Será que ainda escuta o zumbido
das turbinas dentro dos ouvidos
quando está em casa
lendo um livro, vendo novela?
Agradece a Deus ou um santo
qualquer, ou talvez um Buda,
ou um espírito ou fada benfazeja
toda vez que o piloto
(quem sabe um chato)
faz bem o serviço
e toca o trem de pouso ao chão?
Não sei o que pensa a aeromoça.
Sei que pouso, mas meu coração
fica e viaja com ela.
depois que recolhe o lixo
das pessoas desatentas
e senta-se a nossa frente,
sozinha, antes do pouso?
Pensa no namorado que
a contrariou na noite anterior
e agora está longe e pequeno,
um em meio a tantos outros
homens ingratos das cidades
daqui tão diminutas?
Ou em sua vida vai e volta
pousa e decola, sobe e desce
em lugares que mal conhece,
mas imagina serem interessantes,
um dia vem com calma,
tira fotos, toma um chope,
traz a família?
Em qual horizonte deposita os olhos
maquiados e distantes?
Está com sono, acordou cedo
e ainda é só segunda-feira?
O salto do sapato a incomoda
mais que a mulher sonsa
que fez pouco caso quando
se recolheu a latinha de Coca-Cola?
Será que sente que a observam
e se encantam dela?
Será que ainda olha pela janelinha?
Será que ainda escuta o zumbido
das turbinas dentro dos ouvidos
quando está em casa
lendo um livro, vendo novela?
Agradece a Deus ou um santo
qualquer, ou talvez um Buda,
ou um espírito ou fada benfazeja
toda vez que o piloto
(quem sabe um chato)
faz bem o serviço
e toca o trem de pouso ao chão?
Não sei o que pensa a aeromoça.
Sei que pouso, mas meu coração
fica e viaja com ela.
terça-feira, setembro 08, 2015
terça-feira, agosto 18, 2015
Criação
Feia e espontânea,
como as coisas
que não se preocupam
com o que são,
assim se deita
a musa inspiradora
em meu colchão.
Deita, mas não
me toca.
Me olha nos olhos,
boceja e ri.
Nua e despudorada,
rouba minha coberta,
abre-se em estrela,
me empurra fora da cama
até eu cair.
Me encolho no chão gelado,
faço de travesseiro o assoalho,
tremo feito um chocalho
- até a manhã surgir.
Levanta minha musa,
espreguiça o corpo inteiro,
bota sua blusa azul
e sai.
Dá bom dia ao porteiro,
devolve o troco mal contado
ao jornaleiro,
almoça, solta um arroto
e volta.
Passa a chave na porta,
liga o rádio, televisão
fuça na internet,
toma banho,
limpa os ouvidos com cotonete,
assovia uma canção
e morre,
sem me estender a mão.
como as coisas
que não se preocupam
com o que são,
assim se deita
a musa inspiradora
em meu colchão.
Deita, mas não
me toca.
Me olha nos olhos,
boceja e ri.
Nua e despudorada,
rouba minha coberta,
abre-se em estrela,
me empurra fora da cama
até eu cair.
Me encolho no chão gelado,
faço de travesseiro o assoalho,
tremo feito um chocalho
- até a manhã surgir.
Levanta minha musa,
espreguiça o corpo inteiro,
bota sua blusa azul
e sai.
Dá bom dia ao porteiro,
devolve o troco mal contado
ao jornaleiro,
almoça, solta um arroto
e volta.
Passa a chave na porta,
liga o rádio, televisão
fuça na internet,
toma banho,
limpa os ouvidos com cotonete,
assovia uma canção
e morre,
sem me estender a mão.
sexta-feira, agosto 14, 2015
Poema dos canaviais*
Troquei o açúcar
dos teus lábios
pelo álcool
dos botecos.
Solidão: amarga
feito chorume.
Meu coração:
moído,
só o bagaço,
de tanto levar
petelecos.
* esse eu já tinha postado AQUI, em formato de tirinha.
dos teus lábios
pelo álcool
dos botecos.
Solidão: amarga
feito chorume.
Meu coração:
moído,
só o bagaço,
de tanto levar
petelecos.
* esse eu já tinha postado AQUI, em formato de tirinha.
sexta-feira, agosto 07, 2015
Quântica
Não sei quem
vi no palco
do auditório vazio:
Nelson de Oliveira
Teo Adorno
Valerio Oliveira
Luiz Bras.
Tanto fez!
Tanto faz.
vi no palco
do auditório vazio:
Nelson de Oliveira
Teo Adorno
Valerio Oliveira
Luiz Bras.
Tanto fez!
Tanto faz.
segunda-feira, julho 20, 2015
Yin e yang
Como ler e ter sono
são ações atraentes,
logo
durmo e sonho
com a metade final
dos livros que deixei
no meio
quando apaguei.
são ações atraentes,
logo
durmo e sonho
com a metade final
dos livros que deixei
no meio
quando apaguei.
terça-feira, junho 23, 2015
Rap do apocalipse
Eu tenho medo
e acho é pouco.
Pros ralos dessa estrada
sigo eu e mais uns loko.
Tem problema não.
Vida vem em vão.
O cabo da navalha
não protege a nossa mão.
O sangue escorre quente,
manchando a minha mente.
Quem não me compreende
chama o comercial
tira as roupas do varal
e engole quente.
Piscou pra mim
o olho do furacão.
Sorriu pra mim
a banguela do capeta.
Aqui o bebê chora
e a mãe não dá chupeta.
Da linha que vai pro céu
perdi o último busão.
Eu sou do interior
do final do Fim do Mundo,
onde o sol nasce atrasado
e a solidão é um rio profundo.
Quando cai a noite
cada estrela que pisca
é uma luz no fim de um túnel
duma rua que cruzar
ninguém arrisca.
O céu é negro feito a dor.
A terra é cinza como Gaza.
O mar brilha a neon de reator.
Inferno vermelho de desgraça.
Caiu em mim
a carga do caminhão.
Acabou em mim
o efeito borboleta.
Aqui a pomba da paz decola
e volta furada de baioneta.
O pote que guarda o fel
virou e se espatifou no chão.
e acho é pouco.
Pros ralos dessa estrada
sigo eu e mais uns loko.
Tem problema não.
Vida vem em vão.
O cabo da navalha
não protege a nossa mão.
O sangue escorre quente,
manchando a minha mente.
Quem não me compreende
chama o comercial
tira as roupas do varal
e engole quente.
Piscou pra mim
o olho do furacão.
Sorriu pra mim
a banguela do capeta.
Aqui o bebê chora
e a mãe não dá chupeta.
Da linha que vai pro céu
perdi o último busão.
Eu sou do interior
do final do Fim do Mundo,
onde o sol nasce atrasado
e a solidão é um rio profundo.
Quando cai a noite
cada estrela que pisca
é uma luz no fim de um túnel
duma rua que cruzar
ninguém arrisca.
O céu é negro feito a dor.
A terra é cinza como Gaza.
O mar brilha a neon de reator.
Inferno vermelho de desgraça.
Caiu em mim
a carga do caminhão.
Acabou em mim
o efeito borboleta.
Aqui a pomba da paz decola
e volta furada de baioneta.
O pote que guarda o fel
virou e se espatifou no chão.
quarta-feira, junho 03, 2015
Latifúndio
Sento
sozinho e sossegado
na varanda
do meu rancho
imaginário
e conto
sem pressa
cabeça a cabeça
meu gado
inventado.
Sou dono
da maior fazenda
do interior do
meu estado
- não há
cerca suficiente
pra cercar
meu cerrado:
tudo é solto
tudo é meu
tudo é teu
tudo é nosso
tudo é dado
obrigado.
sozinho e sossegado
na varanda
do meu rancho
imaginário
e conto
sem pressa
cabeça a cabeça
meu gado
inventado.
Sou dono
da maior fazenda
do interior do
meu estado
- não há
cerca suficiente
pra cercar
meu cerrado:
tudo é solto
tudo é meu
tudo é teu
tudo é nosso
tudo é dado
obrigado.
sábado, maio 16, 2015
Ímpar
Tem um saci
guardado dentro
da máquina de
lavar roupas.
Bate bate
lava lava
centrifuga.
O ciclo acaba.
Abro a porta
e as recolho
úmidas.
Sai ele antes
invisível
e leva toda vez
uma meia consigo.
guardado dentro
da máquina de
lavar roupas.
Bate bate
lava lava
centrifuga.
O ciclo acaba.
Abro a porta
e as recolho
úmidas.
Sai ele antes
invisível
e leva toda vez
uma meia consigo.
sexta-feira, março 20, 2015
Queda
Meu cadarço
perdeu o laço,
tropiquei
e fui ao chão.
Gravidade
não vê idade,
sexo, cor
ou religião.
Minha sorte:
encontro o Norte
na palma estendida
da tua mão.
perdeu o laço,
tropiquei
e fui ao chão.
Gravidade
não vê idade,
sexo, cor
ou religião.
Minha sorte:
encontro o Norte
na palma estendida
da tua mão.
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