quarta-feira, agosto 26, 2009

Caravana

A caravana segue.
Em frente, sem parar.
Nunca parou, sempre em frente.
Segue, segue a caravana.

Não há escolha.
Não há como ficar para trás.
Para trás não existe.
Pois a caravana é tudo o que existe.

Dá teu braço,
acerta o passo,
olha em frente.
E a luz será profunda,
- luz do sol -
que caminha com a gente...
Bem como a lua e todas as estrelas.

terça-feira, agosto 04, 2009

Trilha

Viriato sentia-se bem. Caminhou 40 minutos em chão de terra e agora voltava para casa, sorriso nos lábios. Eram cinco e 15, férias, mulher no trabalho e filhos na escola. Sozinho, tudo dele, pra ele - só pra ele. Oh yes!
Tirou meia e tênis fedorentos, jogou a camiseta sobre a mesa de jantar, tirou o short na cozinha, pegou uma cerveja e foi pra sala. Ligou a TV no canal mais ordinário. Curtia programa de baixaria, gente resolvendo perrengues pessoais na frente das câmeras. Achava um absurdo lindo coisas do tipo.
Adormeceu sentado. Sonhou que era gigante e caminhava na praia. Em certo momento, o mar lhe chamou: "venha". Ele foi e só ficou com a cabeça pra fora, observando. Um pelicano pensou que aquilo fosse uma ilha e pousou no cocoruto. Então, Viriato se cansou e voltou à areia. A coroa de penas não lhe incomodava, nem aos outros.
Acordou e esqueceu de tudo. Espreguiçou e escutou as costas estalarem. Sentiu um calafrio subir a espinha, uma onda boa de energia. Fez o muque, sentiu-se grande - e foi tomar banho.
Lavava o pé quando notou na sola uma pinta inédita. Pensou que fosse sujeira e esfregou. Nada. Mais forte e nada. Era pinta mesmo. Preta, lá não muito pequena, quase mancha. Ficou intrigado, desligou o chuveiro e examinou mais de perto, sentado na cama.
Então, o troço mudou de forma. Viriato tomou um susto e começou a sacudir o pé, horrorizado. Não saiu. Passou a unha, não saiu. Esfregou no chão e nada. A pinta agora era uma perfeita saúva.
"Jesus Christ!", exclamou o homem, que adorava inglês. "Por onde andei?"
Lá do alto, de trás das nuvens, O Cara respondeu - sem ser ouvido: "Dos quatro elementos, só falta o fogo". E lançou em Viriato a vontade de comer hamburguer que, desajeitado, queimou o dedo na frigideira.