terça-feira, junho 23, 2015

Rap do apocalipse

Eu tenho medo
e acho é pouco.
Pros ralos dessa estrada
sigo eu e mais uns loko.
Tem problema não.
Vida vem em vão.
O cabo da navalha
não protege a nossa mão.
O sangue escorre quente,
manchando a minha mente.
Quem não me compreende
chama o comercial
tira as roupas do varal
e engole quente.

Piscou pra mim
o olho do furacão.
Sorriu pra mim
a banguela do capeta.
Aqui o bebê chora
e a mãe não dá chupeta.
Da linha que vai pro céu
perdi o último busão.

Eu sou do interior
do final do Fim do Mundo,
onde o sol nasce atrasado
e a solidão é um rio profundo.
Quando cai a noite
cada estrela que pisca
é uma luz no fim de um túnel
duma rua que cruzar
ninguém arrisca.
O céu é negro feito a dor.
A terra é cinza como Gaza.
O mar brilha a neon de reator.
Inferno vermelho de desgraça.

Caiu em mim
a carga do caminhão.
Acabou em mim
o efeito borboleta.
Aqui a pomba da paz decola
e volta furada de baioneta.
O pote que guarda o fel
virou e se espatifou no chão.

quarta-feira, junho 03, 2015

Latifúndio

Sento
sozinho e sossegado
na varanda
do meu rancho
imaginário
e conto
sem pressa
cabeça a cabeça
meu gado
inventado.

Sou dono
da maior fazenda
do interior do
meu estado
- não há
cerca suficiente
pra cercar
meu cerrado:
tudo é solto

tudo é meu
tudo é teu
tudo é nosso

tudo é dado
obrigado.