sexta-feira, outubro 02, 2015

Turbulência

O que pensa a aeromoça
depois que recolhe o lixo
das pessoas desatentas
e senta-se a nossa frente,
sozinha, antes do pouso?

Pensa no namorado que
a contrariou na noite anterior
e agora está longe e pequeno,
um em meio a tantos outros
homens ingratos das cidades
daqui tão diminutas?

Ou em sua vida vai e volta
pousa e decola, sobe e desce
em lugares que mal conhece,
mas imagina serem interessantes,
um dia vem com calma,
tira fotos, toma um chope,
traz a família?

Em qual horizonte deposita os olhos
maquiados e distantes?

Está com sono, acordou cedo
e ainda é só segunda-feira?
O salto do sapato a incomoda
mais que a mulher sonsa
que fez pouco caso quando
se recolheu a latinha de Coca-Cola?

Será que sente que a observam
e se encantam dela?
Será que ainda olha pela janelinha?
Será que ainda escuta o zumbido
das turbinas dentro dos ouvidos
quando está em casa
lendo um livro, vendo novela?

Agradece a Deus ou um santo
qualquer, ou talvez um Buda,
ou um espírito ou fada benfazeja
toda vez que o piloto
(quem sabe um chato)
faz bem o serviço
e toca o trem de pouso ao chão?

Não sei o que pensa a aeromoça.
Sei que pouso, mas meu coração
fica e viaja com ela.

Nenhum comentário: