E um dos preferidos de todos os tempos:
CABELEIRA IMPOSSÍVEL
Não é minha boca que fala por mim.
São minhas entranhas
que se torcem
e cospem estas palavras
estranhas.
Se tropeço no caminho
não é meu dedo que se arrebenta,
não é minha unha que roxeia.
Da virilha ao mal de Aquiles,
é toda perna que apodrece.
Quando penso, não é
a cabeça que me dói.
É o estômago,
que se retrai, escurece
e implode, chupando
todo o resto para si.
Quando beijo, não são
meus lábios inchados,
nem minha língua vermelha
ou meu gosto indiscreto
que você sente.
É o meu peito,
que estoura e ejeta
para todos os vasos,
o mais bem guardado sangue.
Minhas costas doem,
mas não são elas.
São os cabos de aço, presos
nos discos da coluna.
As outras pontas,
eu não as vejo.
Eles saem e sobem e se
perdem lá em cima,
trançando com outros
cabos uma cabeleira impossível
- que sustenta bilhões
de corpos
tão pesados, tão rígidos,
tão tortos e pequenos
como o meu.
domingo, fevereiro 07, 2010
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